Série: “OS 4 EVANGELHOS EM 1”
24/52 – CONTRA OU A FAVOR
O texto de hoje é mais um daqueles temas que requerem mais cuidado e melhor compreensão. Parecia-me, a princípio, um caso contraditório com outras passagens, por isso evitava abordá-lo! Mas depois recorri também à opinião de outros estudiosos para clarear melhor o meu entendimento, além de, como sempre, buscar pela fé que o próprio Espírito Santo nos traga o discernimento divino e espiritual destituído de parcialidade humana e tendências carnais. Até porque, indiretamente, este assunto também acusava a minha própria consciência intolerante e partidária. Perdoem-me!
Agora analise você também este ocorrido narrado em Marcos 9:38-40 e em Lucas 9:49-50 e busque a interpretação dos fatos:
"Mestre", disse João, "vimos um homem expulsando demônios em teu nome e procuramos impedi-lo, porque ele não era um dos nossos." "Não o impeçam", disse Jesus, "ninguém que faça um milagre em meu nome, pode falar mal de mim logo em seguida, pois quem não é contra nós está a nosso favor, quem não é contra vocês, é a favor de vocês.”
João, o conhecido discípulo do amor, parecia aqui estar faltando com este amor inclusivo quando procurava proibir alguém de fazer um bem em nome do “seu” Cristo, como que querendo reter somente para o seu seleto grupo de doze discípulos a exclusividade dos dons espirituais por meio da procuração no nome de Jesus. E não é de se estranhar esta atitude, eu mesma me pego, muitas vezes, em algumas situações, também insegura e desconfiada quanto a legitimidade de certos milagres ocorridos em outros grupos, seitas, ou mesmo outras religiões que não a minha! É compreensível este zelo quando acompanhado de um verdadeiro e sincero discernimento espiritual, afinal, temos várias advertências bíblicas a esse respeito, inclusive do próprio Cristo prevendo que apareceriam "falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os eleitos.” (Mateus 24:24) Por isso que a resposta de Jesus a João parecia contradizer o que antes Ele mesmo declarou: "Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!’" (7:21-23)
Foi neste momento que “pedi ajuda aos universitários” e encontrei esta pérola de outro João mais nobre, o Calvino: “Cristo não desejou que ele fosse proibido; não que ele lhe desse autoridade, ou aprovasse o que ele fez, ou mesmo desejasse que seus discípulos o aprovassem, mas porque, quando por qualquer ocorrência Deus é glorificado, devemos aceitá-lo e nos alegrar. Assim, Paulo, apesar de desaprovar as disposições daqueles que usaram o Evangelho como pretexto de engrandecer a si mesmos, ainda se alegra que por essa ocorrência a glória de Cristo é avançada (leia em Filipenses 1:15-18). Devemos atender também à razão que é acrescentada: que é impossível para qualquer homem que faça milagres em nome de Cristo falar mal de Cristo, e, portanto, isso deve ser considerado ganho; pois daí resulta que, se os discípulos não tivessem sido mais devotados à sua própria glória do que ansiosos e desejosos de promover a glória de seu Mestre, não ficariam ofendidos quando vissem que a glória aumentava e aumentava em outra direção. E, no entanto, Cristo declara que devemos considerar como amigos aqueles que não são inimigos abertos.” Ou seja, quem não é contra nós é por nós, mas quem conosco não ajunta, espalha! Eis a questão a distinguir com sabedoria do alto!
Mais outro João, também mais indulgente, deixou a sua contribuição ao assunto: “nem direta nem indiretamente desencoraje ou atrapalhe qualquer homem que traga pecadores do poder de Satanás para Deus, porque ele não nos segue, em opiniões, modos de adoração, ou qualquer outra coisa que não afete a essência da religião.” (John Wesley)
Acredito que esta discussão ainda renderia mais comentários antes de uma conclusão completa desta questão. Queria ainda comparar esta experiência de João e Jesus no NT com outra muito semelhante do AT narrado em Números 11:24-29 entre Josué e Moisés, mas fica para lição de casa! Por agora ficamos aí com o evidente contraste de duas atitudes diferenciadas apresentadas para nossa apreciação e decisão por qual delas adotar quando nos sentirmos ameaçados como João. Se o próprio Jesus não proibiu, quem somos nós para querer monopolizar o poder que Deus opera quando e por meio de quem Ele quiser? Certamente no Dia designado e pelo Justo Juiz de toda a Terra será julgado “Se alguém constrói sobre esse alicerce, usando ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno ou palha, sua obra será mostrada, porque o Dia a trará à luz; pois será revelada pelo fogo, que provará a qualidade da obra de cada um.” (1 Coríntios 3:12,13)
Compartilhei minha 24ª semana de 2023
Marina M. Kumruian
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